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domingo, 17 de abril de 2011


Querido diário.

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23/03/2009

Querido Diário,
Não pensei que eu fosse voltar a escrever aqui. Pensei que esse caderno verde-escuro ficaria para sempre guardado em meu armário, e que seria apenas mais uma forma de recordação dos velhos tempos, de quando eu ainda era uma menina. Mas a gente sempre se engana, não é? Eu, no auge dos meus 17 anos, volto escrever num diário, como uma menininha que acaba de completar 10 anos e que ganhou um caderninho com cadeado, cor-de-rosa e cheiroso.
Quem me dera essa fosse a razão pela qual voltei a escrever aqui. Estou simplesmente desesperada, e acho que a única forma de colocar esse desespero para fora é escrevendo. Escrevendo em um papel, enquanto deixo as lágrimas caírem e meu queixo tremer. Não quero escrever nada disso do que sinto no blog ou no fotolog. Quero guardar para mim, porque sei que a partir de hoje, travo uma luta comigo mesma.
Já fazia um tempo que eu sabia que alguma coisa estava acontecendo. Quando se ama, a energia no ar se torna perceptível. Quando amamos, sabemos se está tudo bem ou não. Não é preciso sexto sentido, é preciso apenas amor. E como eu previa, aconteceu: O Léo voltou com a Mari, hoje. E sabe como eu descobri? Pelo orkut! Ele não teve sequer o trabalho de me contar, de conversar comigo, me dizer o que estava acontecendo. Eu sabia que uma hora ou outra isso ia acabar acontecendo, certas coisas não estão sob nosso controle. Mas custava ele pelo menos me dar uma satisfação, por menor que ela fosse? Eu fui descobrir que a pessoa que eu mais amo no mundo reatou o namoro com a ex-namorada, através orkut! Existe maneira mais fracassada de descobrir que seu mundo desmoronou que essa?
Parece que tudo que nós passamos não significou nada para ele, enquanto ele se tornou a minha vida, em todos os sentidos. Se ele não me quisesse mais, se não quisesse mais ficar comigo, tudo bem, eu não poderia obrigá-lo, mas custava ele me contar que estava prestes a reatar um namoro e acabar tudo comigo de uma maneira decente e humana?? Hoje eu consigo entender aquela velha história de quando as coisas começam sem formalidades, também acabam sem formalidades.
Eu estou sem ar, sem chão, sem cor. São 00:40 e eu estou aqui, com a mente em transe, deixando minhas mãos tentarei traduzir a dor que o meu coração sente. Estou tentando colocar para fora um sofrimento que parece não ter fim. Eu nunca pensei que pudesse caber tanto amor dentro de um ser humano, eu nunca pensei que pudesse doar a minha vida inteira a uma pessoa que não merece uma lágrima minha sequer.
Ele trata tudo de uma maneira indiferente, como se não devesse nenhuma explicação, como se eu não tivesse nada a ver com a vida dele. Eu me pergunto, COMO ASSIM? Será que nesse tempo todo eu não signifiquei nada?! Será que fui apenas uma diversão de férias para ele usar da forma que bem entedesse e depois jogar no lixo como uma casca de banana? Como alguém pode ser tão maldoso e frio, a ponto de não ligar a mínima para o sentimentos de alguém que deu a vida a ele, e que o ama mais que tudo no mundo? Eu pensava que não existiam pessoas frias, e sim, pessoas incompreendidas. Hoje eu percebo o quanto eu estava errada. Existem pessoas geladas, com o coração de pedra, que não ligam porra nenhuma para ninguém, muito menos para quem as ama.
Eu fiz TUDO o que pude por ele. Tentei ajudá-lo de todas as formas possíveis. Eu não me importaria de ter que ir até o inferno com ele se fosse a única maneira de ficarmos juntos. Eu duvido que alguém tenha se dedicado a ele com a intensidade que eu me dediquei. Eu duvido que a Mari o ame da maneira que eu o amo. E quer saber, diário?! Eu quero que essa droga de relacionamento dê errado mesmo, que ele perceba a burrada que fez em me trocar dessa maneira, sem dizer um mísero ‘fui’. Quero que ele seja extremamente infeliz com ela, quero que ele sinta pelo menos um DIA a dor que estou sentindo nesse exato momento. Não há nada que eu possa fazer além de deixar meu coração sair pela boca junto com as lágrimas pelos meus olhos.
Eu ainda escrevi uma carta para ele enorme, dizendo tudo que eu sentia, da maneira mais verdadeira possível, e ele me respondeu com um mísero ‘ok’. Ok. É isso que eu mereço depois de todos esses meses de dedicação total a ele: uma mísera gíria estrangeira de duas letras. Ok. Se é ok para mim, que seja ok para ele também. Ele vai se arrepender amargamente de ter trocado quem mais o amou, quem mais sacrificou a vida por ele, sem ao mesmo dizer um tchau, um adeus. Ele pisou em mim, amassou e jogou fora, sem se preocupar a mínima com meus sentimentos. Mas essa foi a última vez.
Ninguém mais vai pisar no meu coração. Disso, diário, você pode ter certeza.

O Anjo Branco.

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Anjos brancos também engolem os cacos do próprio espelho interior. Muito recentemente, vi um anjo de aparência feminina, extremamente angustiado e fragilizado, mastigar e engolir com vontade os cacos de vidro de espelho interior, que agora estava quebrado. Esses cacos lhe feriam, lhe sangravam a boca de uma forma extremamente árdua, mas esse anjo não conseguia parar de mastigar, se multilar. Ao meu ver, ele comia aqueles cacos não por vontade, mas por necessidade.
Os olhos desse anjo derramavam lágrimas tão pesadas, que também eram de sangue. Um sangue vermelho turvo, doentio, misturado ao branco daquele uniforme angelical de aparência tão serena e doce. Aparência serena que escondia uma alma fervilhante, entrando em erupção, prestes a explodir todos os espelhos interiores.
Só quem conhece a dor de não conseguir segurar aquilo que mais ama é capaz de entender a necessidade que esse anjo tinha de comer vidro, de se ferir. Só quem conhece a sensação de ter perdido a própria existência sabe o que é saborear o sangue expesso que caia dos olhos até boca frágil e trêmula. Como quis cuidar daquele anjo. Mas como eu poderia? São os anjos que cuidam dos seres humanos. Tentando ajudar, perguntei a ele o que o fazia sentir-se daquela forma vorazmente desesperada. Para minha surpresa, ele conseguiu falar e me respondeu.
- Eu disse ao meu amado que morreria se ele me deixasse.
Eu continuei indagando:
- E o que ele respondeu?
- Disse que era para eu morrer, então.
Senti na pele a dor daquele anjo. Todos os meus fios de cabelo se arrepiaram. Pedi para que prosseguisse.
- Eu disse a ele que se me deixasse, ele nunca mais iria me ver. E ele respondeu que tudo bem. Que eu havia me excluído da vida dele.
Foi aí que descobri que anjos são mais humanos que os próprios humanos. Sofrem por amor e carregam a vida nas costas. Gritam, desesperados, como pedaços de estrelas sem-mortas, lutando pela vida, ao  cairem sobre algum planeta distante e abandonado.
- É por isso que eu como os cacos do meu espelho - completou o Anjo Branco, bruscamente manchado de sangue - Para ver se a dor exterior consegue disfarçar a dor que sinto por dentro. Não tem adiantado, mas vou continuar tentando. Enquanto a lembrança das minhas mãos em busca de mãos que queriam, desesperadamente, fugir de mim existir; enquanto o meu grito não conseguir sair; enquanto a lembrança das minhas asas caindo e das minhas penas se tornando cinzas existir; enquanto eu existir; vou procurar curar essa dor que sinto por dentro, com a dor que sinto por fora.
E o Anjo Branco foi-se embora.

Francamente, minha querida,

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Francamente, minha querida,
Você é adolescente, é natural que tenha ilusões. Quando se tem 15 ou 16 anos, as cores realmente aparentam ter mais cor do que realmente têm.
Aceite isso como um conselho de uma possível irmã mais velha, alguém que quer te ver mais feliz no futuro.
Essas fotos que você salva no seu computador e utiliza como imagem de seus “fakes” no orkut são belas, sim, são. Mas são apenas fotos, não passam de fotos. Elas não dizem quem a pessoa que está ilustrada é, nem o que ela já passou e nem o que ela já viveu. E sabe essa mocinha dos cabelos bonitos, a quem você idolatra e gostaria de ser exatamente igual? Então, ela também é um ser humano, ela também tem mal hálito de manhã e muitas vezes acorda com os olhos inchados. Ela não tem a vida perfeita e glamurosa como aparenta, ela não tem os cabelos exatamente da forma como você os vê. Muitas vezes ela se cansa, muitas vezes ela senta e chora, muitas vezes ela gostaria de ser outra pessoa. E sabe por que eu sei disso? Porque ela também é um ser humano. Um ser humano como você, um ser humano como eu.
Sabe todas essas imagens e coisas lindas que você encontra nas fotos dos seus sites preferidos? Elas enchem os olhos, mas não enchem a alma. Você pode chorar e espernear, sofrer e ter raiva da sua vida por não possuir as coisas ilustradas nessas imagens, mas essas coisas, minha querida, continuarão sendo coisas por todo sempre. Elas jamais possuirão algo que você possui: vida. E por mais que passem a impressão de que possuindo-as você ficaria mais bela ou mais feliz, não ficaria. Posso te contar um segredo? É uma felicidade passageira. No final, nem um milhão de roupas e esmaltes bonitos poderão trazer de volta o tempo que você perdeu querendo ser outra pessoa, em vez de ser você mesma.


Soft Soul.

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Na esquina amarelada daquela rua, há um rapaz. Um rapaz que possui uma alma tão suave que, não importa o que lhe aconteça, será para sempre um menino. Um menino que não precisa ir muito longe para ver que existe grandeza nesse mundo. Para ele, existe grandeza até mesmo naquela esquina rotineira na qual ele se senta todos os dias. A beleza está próxima aos seus olhos amarelos. Certamente ele viajou para muito mais longe que você, já viu muito mais coisas que você, mas ele continua carregando a pureza de uma criança na alma. Ele olha em direção ao nada, com um semblante sorridente. Não que ele esteja exatamente feliz, longe disso, mas ele aprendeu na própria existência a ser resignado. Não importa se não estiver tudo bem, ele sorri, e ainda agradece.
Esse rapaz está segurando o coração na mão. Está quebrado, pisoteado, multilado. Literalmente em caquinhos. Mas ele não se importa. Por mais que esteja em péssimo estado, esse coração continua sendo o único que possui, e ele faz o possível para cuidar dele da melhor maneira possível. Esse rapaz-menino ainda acredita no amor, depois de tudo que sofreu, depois de tudo que passou. Ele não teme ser rejeitado. Seu único desejo é amar, amar somente aquela pessoa, ser somente dela, para ela poder ser dele.
Ele pensa em uma garota. Nos olhos castanhos dela. Na maneira tímida na qual ela se pronuncia. Como ela pode ser tão boa em tudo que faz? Como pode, alguém com a aparência tão frágil, carregar um porte de leoa nas costas? Para ele, tudo de mais belo que existe no mundo está concentrado nela. Toda genialidade humana que alguém pode possuir, está concentrada nela. Mariana, o nome dessa garota.
Mariana não quer o rapaz-menino. Ou apenas não descobriu isso.
Eu não sei, não a conheço. A vi algumas vezes, ela tem a alma um pouco mais pesada que a dele. Talvez seja mais complexa, ou até mesmo mais intensa.
Eu só quero que ela goste dele como ele gosta dela. Eu só quero que eles sejam felizes. E eu ficarei feliz quando eles forem felizes. E espero que não demore. O coraçãozinho quebrado do rapaz-menino tem pressa.

Verde-Lusgo

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Eu era verde-limão
Foi o que a amiga me disse uma vez
Verde-musgo é o que você é agora
Ela completou
Eu havia mudado de cor
De limão a musgo eu me transformei
Foi o que a amiga falou

Verde-Limão é tão vivo
que machuca os olhos
Parece uma Nova York de átomos em festa
Cantarolando, pulando, dançando
Parece que eles não se cansam
Aproveitam de tudo
até o final
até o final
e o final
acaba
por se tornar
banal

E o verde-limão que dançou com vida
vai murchando
se cansa
vai dormir, ou só descansar
Na verdade, ele fica com preguiça de voltar
Deixei o meu verde-limão ninar
Não sei onde ele está morando, descansando
Só sei que não quer acordar

Verde-Limão murchou
Continua verde
mas o limão azedou
O que acontece quando o limão azeda?
Eu não sei
Minha amiga também não sabe
Acho que ele perde o tom
e vira um verde esquisito
o verde-musgo
o verde que eu sou.

Verde-Musgo
Não chama atenção de ninguém
Nem é tão vivo de doer os olhos
Nem cantarola e parece uma festa de átomos brincalhões
Verde-Musdo é aquela senhora que a Diane Arbus fotografou
Tem uma história bonita
Mas guarda só para ele

O Verde- Musgo,
eu disse para a minha amiga,
é o verde-limão brincando de esconde-esconde
Ou então, simplesmente, quando ele pede altas.