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terça-feira, 23 de março de 2010


S.O.S

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Escrevo esta carta, na esperança de alguém, do outro lado do mar, a encontre. Garrafas de plástico e vidro são o que menos falta nessa ilha deserta em que estou, então, acredito eu, que se eu mandar várias cópias dessa carta em garrafas como essas, alguém, em algum lugar do outro lado do oceano, irá em contrar.
Preciso ser salva. Logo, seria muito muito mais fácil eu escrever apenas S.O.S, mas não é esse tipo de salvação que preciso. Não preciso ser resgatada, preciso ser salva, preciso respirar. O ar dessa ilha não me faz bem, e por mais que eu me esforce para não fazer parte dessa máfia que enxerga melhor do que raciocina, não consigo. E muito difícil ter que andar sozinha até a parte mais bonita da ilha, quando todos os meus companheiros preferem nadar na beirada do mar. O que faço? Vou sozinha até a parte mais bonita ou fico nadando na beirada, junto aos meus companheiros, onde não existem peixinhos nem algas para serem vistos, debaixo da água cristalina?
Um dia chego lá, quem sabe.

quinta-feira, 18 de março de 2010


Paris em 1900

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Pensar que, todas as pessoas que aparecem nesse vídeo, hoje são parte do vento, é um tanto assustador. Mas ao mesmo tempo em que é assutador, é fascinante, tocante. É como se eu pudesse sentir aquele ambiente, sentir as energias daquele lugar, naquela época. Inexplicável.

segunda-feira, 15 de março de 2010


Um lugar Cinza

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Aquele lugar era cinza
Onde estavam as cores que eu me acostumei?
Verde limão, vermelho, amarelo, roxo
Eram essas as cores pelas quais me apaixonei
Eu as procurava por todo aquele lugar
Mas minhas amadas cores, jamais pude encontrar

Um lugar gélido, frio, imutável
Arrisquei-me a investir esperanças
Doce, inútil tentativa!
Aquelas paredes cinzas me remetiam à lembranças
Afáveis lembranças de um passado contente
Tão próximo passado, tão passado, tão distante.

Recusei-me a me render
Livre sentimento, preso em confinamento
Pulsos algemados em uma peça de teatro
Olhares perdidos, corações vazios, âmago gritando de arrependimento.
Tornamo-nos cúmplices drásticos, infiéis
Todos personagens de uma série de mentiras cruéis

Ah, minhas doces cores vivas!
Onde estariam vocês naquelas horas?
Sentia-as tão apagadas, misturadas ao cinza
Vivia na espera de novas cores, novas histórias, novas auroras
Não sabia que com aquele cinza quase sem cor
Eu pintava mais um quadro do meu interior

O cinza daquelas paredes
O cinza daquela imensidão
Trazia arrepio para minha pele, frio para o meu ser
E assim, um desespero aflito e angustiado em meu coração
Acordar com o corpo morto, cortado
Dormir com o espírito multilado, dilascerado.

A cor cinza que me pintaram
Permanece intacta em minha alma
É a mãe das outras cores que vivem em mim
E hoje, depois de tanta dor, ela me acalma
A ardente intensidade tomou uma tonalidade sarcástica
É a cor cinza, dentro de mim: imutável, viva, estática.